quarta-feira, 26 de junho de 2013

Nota Pública contra a violência policial: após protestos polícia realiza chacina na Maré


fotografia Andressa Lacerda

As favelas da Maré foram ocupadas por diferentes unidades da Polícia Militar do Estado do Rio (PMERJ), incluindo o Batalhão de Operações Especiais (Bope), com seu equipamento de guerra – caveirão, helicóptero e fuzis – ontem, dia 24 de junho. Tal ocupação militar aconteceu após manifestação realizada em Bonsucesso pela redução do valor da passagem de ônibus, como as inúmeras que vêm sendo realizadas por todo o país desde o dia 6 de junho. As ações da polícia levaram à morte de um morador na noite de segunda-feira. Um sargento do Bope também morreu na operação e a violência policial se intensificou, com mais nove pessoas assassinadas, numa clara demonstração de revide por parte do Estado.

Diversas manifestações estão ocorrendo em todo o país e intensamente na cidade do Rio de Janeiro. Nas última semanas a truculência policial se tornou regra e vivemos momentos de bairros sitiados e uma multidão massacrada na cidade. No ato do último dia 20, com cerca de 1 milhão de pessoas nas ruas, o poder público mobilizou a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), contando com o Choque, Ações com Cães (BAC), Cavalaria, além da Força Nacional. A ação foi de intensa violência contra a população, causando um clima de terror em diversos bairros da cidade.

Não admitimos que expressões legítimas da indignação popular sejam transformadas em argumento para incursões violentas e ocupações militares, seja sobre a massa que se manifesta pelas ruas da cidade, seja nos territórios de favelas e periferias!

Tal ocupação das favelas da Maré evidencia o lado mais perverso deste novo argumento utilizado pelos órgãos governamentais para darem continuidade às suas práticas históricas de gestão das favelas, de suas populações e da resistência popular. Sob a justificativa de repressão a um arrastão, a polícia mais uma vez usou força desmedida contra os moradores da Maré, uma prática rotineira para quem vive na favela. É importante observar que, quando o argumento de combate a um arrastão foi usado contra manifestantes na Barra da Tijuca, não houve a utilização de homens do Bope, nem assassinatos, mostrando claramente que há um tratamento diferenciado na favela e no “asfalto”.

Repudiamos a criminalização de todas as manifestações. Repudiamos a criminalização dos moradores de favelas e de seu território. Repudiamos a segregação histórica das populações de favela – negras/os e pobres – na cidade do Rio de Janeiro.

Não admitimos que execuções sumárias sejam noticiadas como resultado de confrontos armados entre policiais e traficantes. Não se trata de excessos, nem de uso desmedido da força enquanto exceção: as práticas policiais nesses territórios violam os direitos mais fundamentais e a violação do direito à vida também está incluída nessa forma de oprimir.

O governo federal também contribui com o que ocorre nas favelas cariocas, não apenas pela omissão na criação de políticas públicas, mas também por manter as tropas da Força Nacional de Segurança dentro da cidade, reproduzindo o mesmo modelo aplicado pelo governo estadual.

As/Os moradoras/es de favelas e toda a população têm o direito de se manifestar publicamente – mas pra isso precisam estar vivas/os. E o direito à vida continua sendo violado sistematicamente nos territórios de favelas e periferias do Rio de Janeiro e de outras cidades do país.

Exigimos a imediata desocupação das favelas da Maré pelas forças policiais que estão matando suas/seus moradoras/es com a justificativa das manifestações. Exigimos que seja garantido o direito à livre manifestação, à organização política e à ocupação dos espaços públicos. Exigimos a desmilitarização das polícias.

A nota está aberta para adesões de movimentos sociais e organizações através do e-mail contato@enpop.net.

Assinam a nota:

    Arteiras Alimentação do Borel
    Bloco Planta na Mente
    Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA)
    Central de Movimentos Populares (CMP)
    Centro de Promoção da Saúde (CEDAPS)
    Cidadania e Imagem-UERJ
    Círculo Palmarino
    Coletivo Antimanicomial Antiproibicionista Cultura Verde
    Coletivo de Estudos sobre Violência e sociabilidade – CEVIS-UERJ
    Coletivo das Lutas
    Coletivo Tem Morador
    Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas
    Conselho Regional de Psicologia (CRP/RJ)
    Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/RJ)
    DCE-UFRJ
    Deputado Federal Chico Alencar (PSOL/RJ)
    DPQ
    FASE
    Fórum de Juventudes RJ
    Fórum Social de Manguinhos
    Frente de Resistência Popular da Zona Oeste
    Grupo Conexão G
    Grupo Eco Santa Marta
    Grupo ÉFETA Complexo Alemão
    Instituto Brasileiro De Análises Sociais E Econômicas (IBASE)
    Instituto Búzios
    Instituto de Formação Humana e Educação Popular (IFHEP)
    Instituto de Defensores dos Direitos Humanos (DDH)
    Instituto de Estudos da Religião (ISER)
    Justiça Global
    Levante Popular da Juventude
    Luta Pela Paz
    Mandato do Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ)
    Mandato do Deputado Federal Chico Alencar (PSOL/RJ)
    Mandato do Vereador Renato Cinco (PSOL/RJ)
    Mandato do Vereador Henrique Vieira (PSOL/Niterói)
    Mariana Criola
    Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM)
    Movimento pela Legalização da Maconha
    Movimento DCE Vivo (UFF)
    Nós Não Vamos Pagar Nada
    Núcleo Piratininga de Comunicação
    Núcleo de Direitos Humanos da PUC
    Núcleo Socialista de Campo Grande
    Ocupa Alemão
    Ocupa Borel
    PACS
    Partido Comunista Brasileiro (PCB)
    Pré-Vestibular Comunitário de Nova Brasília Complexo Alemão
    Raízes em Movimento do Complexo do Alemão
    Rede FALE RJ
    Rede de Instituições do Borel
    Redes e Movimentos da Maré
    União da Juventude Comunista (UJC)
    Universidade Nômade
    Revista Vírus Planetário

Nenhum comentário:

Postar um comentário